domingo, 5 de junho de 2011

NOTÍCIA SOBRE O ENCONTRO ANUAL DE 2011

Nos dias 28 e 29 do passado mês de Maio teve lugar em Torre de Moncorvo o encontro anual da nossa Associação, concretizando-se assim mais uma oportunidade de convívio entre antigos colegas e amigos.

O respectivo programa, previamente anunciado junto dos associados e publicamente divulgado, atraiu cerca de 90 pessoas que viveram um dia de grande animação e entusiasmo, matando saudades e revivendo a antiga e sã camaradagem.

O dia 28 começou com a habitual concentração no adro da Igreja Matriz a que se seguiu a celebração, pelo Padre Sobrinho, de uma missa em memória dos professores e alunos falecidos. Logo de seguida, já no auditório da Biblioteca Municipal, decorreu o acto de lançamento do livro «ANGOLA – O Conflito na Frente Leste», da autoria de Benjamim Almeida, que foi aluno do antigo Colégio Campos Monteiro. Nesta obra o autor faz um relato da sua experiência no cumprimento do serviço militar obrigatório, em particular da sua intervenção na guerra colonial na zona Leste de Angola.

Com a patente de capitão miliciano desempenhou as funções de intermediário entre as autoridades militares da região e a direcção da UNITA, com vista à manutenção do acordo de não agressão mútua em vigor.

O livro foi apresentado pelo Dr. João Manuel Alves de Oliveira, amigo e companheiro de armas do autor, que fez uma breve exposição do seu conteúdo. Assistiu-se a uma elucidativa descrição e interpretação de ocorrências que proporcionam ao leitor uma visão do contexto e circunstâncias de uma época relevante para a História recente de Portugal. Ao mesmo tempo o apresentador chamou a atenção para experiências e intervenções de carácter pessoal e de grande humanidade que perpassam na memória de quem as vivenciou e encontram eco nas memórias de todos os ex-combatentes da guerra colonial. A apresentação foi brilhante e muito aplaudida.

A sessão foi presidida pelo Vice-Presidente da Câmara Municipal, Engº José Aires, estando presentes na mesa, além do autor da obra, a directora da Biblioteca, Dr.ª Helena Pontes, o representante da Âncora Editora, Dr. Rogério Rodrigues e o presidente da direcção da nossa Associação, Engº Ramiro Manuel Salgado.

Terminada a cerimónia de lançamento teve lugar o já tradicional almoço no polivalente da Escola Secundárias Dr. Ramiro Salgado com a presença de 90 pessoas, entre as quais o Director do Agrupamento, Dr. António Alberto Areosa, também ele nosso associado. A refeição foi servida em regime de bufett, muito rica e variada, que foi certamente do agrado de todos.

O almoço e o convívio foram acompanhados de animação musical com a presença da Escola «SaborArtes», grupo de Torre de Moncorvo constituído essencialmente por jovens tocadores de cavaquinhos e violas. A sua actuação, à base de peças populares, foi uma agradável surpreza, revelando uma interpretação de alto nível de formação musical.

A contribuir também para a animação deste convívio foi possível apreciar um pequeno mas excelente concerto de guitarra de Coimbra, apresentado pelo Dr. Luis Plácido, antigo estudante da respectiva universidade e nosso particular amigo, o que nos permitiu reviver os velhos tempos de estudante. Por último actuou o conjunto dos irmãos Pestana José e Manuel, à viola e guitarra respectivamente, que nos deliciaram com fados de Lisboa cantados pela esposa do Manuel e também de Coimbra, interpretado por um dos membros do grupo «SaborArtes». (Que me desculpe a pessoa em causa por não conhecer o seu nome para aqui registar).

Creio que todos os presentes ficaram agradados com os momentos de convívio e confraternização que, esperamos, constituam um incentivo para a organização e concretização de futuros encontros dos nossos associados.


No dia 29, Domingo, foi feita a visita cultural a Mós, em alternativa à de Urros inicialmente prevista no programa divulgado do Encontro Anual de 2011. É que já havia sido realizada tal visita em anos anteriores, facto que passara despercebido aos organizadores do progama. O grupo de visitantes, constituído por cerca de 20 elementos, teve oportunidade e o gosto de ser guiado pelo Dr. Nelson Rebanda, também nosso associado, profundo conhecedor da riqueza histórica e arquelógica da nossa região e, no que respeita àquela antiga vila medieval de Mós, transcendeu tudo quanto poderíamos esperar: Informações valiosa e detalhadas sobre alguns dos valores patrimoniais daquela terra. Tivémos oportunidade de visitar a Igreja Matriz, a Capela de Santa Bárbara, padroeira de Mós, a Capela de Santa Cruz, os vestígios do antigo castelo, a fonte romana, a casa da roda e o pelourinho, além de apreciar os arruamentos com as suas antigas casas de paredes de alvenaria de xisto, num estilo interessante, próprio da região. Muitos locais haveria para visitar, mas a duração de cerca de 4 horas não dava para mais. Foi, no entanto, o suficiente para a todos os presentes deixar muito satisfeitos e agradavelmente supreeendidos pela riqueza patrimonial daquela terra, embora custasse ver o quanto mais poderia ser feito pelas autoridades competentes, no sentido de uma maior preservação de algumas edificações. O Presidente da Junta de Feguesia, Senhor Paulo Bento, teve a amabilidade de nos receber, acompanhar e, no final da visita, de nos oferecer um magnífico lanche na Sede da Junta de Freguesia.

Resta-nos deixar aqui registados os agradecimentos que a direcção da Associação dirige à Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, ao Presidente do Agrupamento de Escolas de Torre de Moncorvo, ao Presidente da Junta de Feguesia de Mós toda, toda a ajuda e colaboração no sentido da concretização do nosso Encontro anual. Um abraço também ao Nelson Rebanda pela sua preciosa intervenção na visita a Mós e a todos que conosco colaboraram.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Direcção da nossa Associação tem prazer de anunciar a realização do Encontro Anual de 2011 (VIII) em 28 e 29 de Maio, cujo programa é o que a seguir se indica.


Dia 28 de Maio

10h 00m: Concentração no adro da Igreja Matriz.

10h 15 m: Missa por intenção dos Professores e Colegas falecidos.

11h 45 m: Lançamento do livro “ANGOLA – O Conflito na Frente Leste”, da autoria de
Benjamim Almeida, antigo aluno do ex-Colégio Campos Monteiro. O acto
decorrerá na Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo.

13 h 00 m: Almoço na Escola Secundária Dr. Ramiro Salgado.

De tarde: Parte Cultural e Recreativa

Dia 29 de Maio

9h 00m até ao fim da manhã: Visita guiada a Mós


À atenção dos Colegas e Amigos:
Para efeitos de organização, a direcção agradece aos Colegas e Amigos que nos confirmem a sua presença, fazendo a inscrição e indicando o número de pessoas, quer para o almoço quer para a visita a Mós, até 23 de Maio de 2011, através de um dos contactos a seguir indicados:
- António Augusto Afonso
Rua da Natária, 95, 4250-327 PORTO
Tel: 228390917 / 919191545
ou
- Ramiro Salgado
Rua João de Lisboa, 13, 2795-108 LINDA-A- VELHA
Tel: 214193328/96 243 5898
E-mail: ramirocfsalgado@gmail.com
Para qualquer esclarecimento poderá, também, contactar:
- Benjamim Almeida: 219216634/914513182 (*)
E-mail: benjafernalmeida@gmail.com
- Isidro Correia: 917291738
E-mail: isidrocorreia@gmail.com

Nota: Por não possuirmos contacto de alguns colegas e amigos agradecemos a divulgação desta iniciativa.

Palestra promovida no passado dia 6 de Maio

No passado dia 6 de Maio foi proferida na Escola Secundária Dr. Ramiro Salgado, uma palestra, sob o título “Certificação na Qualidade”, pelo antigo aluno do Colégio Campos Monteiro, Manuel Serapicos. Esta iniciativa, promovida pela nossa Associação e que se insere no seu âmbito de actividades, foi levada a cabo com o intuito de contribuir para a divulgação, junto da comunidade escolar daquele estabelecimento, da existência do sistema de Certificação de Gestão na Qualidade e que cada vez mais empresas, quer de produção de bens transaccionáveis, quer de serviços o têm adoptado no âmbito dos seus planos de actividade.
Ao longo da exposição foi mantido diálogo entre o palestrante, alunos e professores presentes, com sinais de interesse e curiosidade pelo tema, apesar de este não fazer parte das matérias curriculares.
No acto estiveram presentes o Director do Agrupamento, dr. Alberto Areosa e o presidente da direcção da nossa Associação.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Encontro na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa


Realizou-se ontem, 4 de Dezº , na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro  de Lisboa, o anunciado encontro dos  antigos Alunos e Amigos do nosso velhinho Colégio Campos Monteiro..
O dia estava frio e chuvoso, mais convidava a ficar em casa, à lareira, do que vir por aí fora, calcorreando estradas e depois, em Lisboa,  ainda ter de procurar estacionamento.  Pois, apesar do tom cinzento e da feia carantonha do tempo, compareceram cerca de uma centena de velhos – e mais novos -  colegas e amigos .  Estavam não só muitos dos  residentes na capital, mas também arrostaram o temporal colegas vindos do Porto, de Moncorvo, de Carviçais, do Felgar, etc. etc.  A Amizade é uma Força ! 
Foi esta Força que proporcionou momentos de intensa alegria pelo reencontro,  por vezes, após mais de 50 anos de afastamento e de silêncio . Foi um atropelo de exclamações e perguntas e abraços. Foi um reavivar de memórias daqueles tempos que, embora de inocência, envolviam já sacrifícios e responsabilidades.
Perdoem o quase sacrilégio do que vou dizer : houve um momento em que, se eu soubesse cantar, teria entoado  o “Hino à Alegria” que é também o hino à Amizade e à Liberdade :  “Todos os homens serão irmãos ...”.
Mas vamos deixar esse momento de grande comoção e passemos ao almoço, também ele composto de manjares dignos dos deuses: alheiras , queijos,  presunto, cabrito e vinho da nossa terra ! Não há nada que se lhe compare.
Estou a fazer inveja aos ausentes?  É bem feito...
Às 16 horas teve lugar a 2ª parte do encontro: a apresentação do nº especial da nossa Revista  “ República e Educação” (umas palavrinhas ditas por mim)  e a apresentação do excelente  livro do António Júlio Andrade : “História Política de Torre de Moncorvo : 1890-1926 “,  a cargo do Rogério Rodrigues,  que nos brindou com uma análise de grande rigor e muito saber  como, aliás,  é seu hábito  e a qual foi muito aplaudida.
Várias vozes se ouviram no final deste encontro,  manifestando o desejo de outros encontros semelhantes e com maior frequência.

A Direcção da Associação congratula-se pelo êxito de mais esta actividade e agradece a todos os Associados e Amigos a sua presença e o seu apoio.
E uma última, mas não menos importante, palavra de agradecimento vai também para a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro pelo caloroso acolhimento que muito contribuiu para a concretização deste evento, no qual esteve presente a Sra.Dra.Maria de Lurdes Vaz Marques, membro da Direcção desta instituição.


Júlia Ribeiro, 5.Dezº de 2010

segunda-feira, 28 de março de 2011

NOTÍCIA



A palestra, sob o título “Energias Renováveis e Não Convencionais – Mobilidade Eléctrica”, proferida, no passado dia 18 do corrente, pelo Engº. Técnico Oliveira Martins, na Escola Secundária Dr. Ramiro Salgado, em Torre de Moncorvo, teve a presença de uma boa representação da comunidade escolar local e de pessoas que não pertencem ao Agrupamento de Escolas de Torre de Moncorvo mas, igualmente, interessadas no tema.
A exposição teve como objectivo contribuir para a divulgação da existência de uma imensa variedade de alternativas energéticas ao nosso alcance, suas principais características e potencialidades de utilização. Tendo sido genericamente descritos os sistemas energéticos, permitiu ter uma ideia das respectivas vantagens e desvantagens e tomar conhecimento dos níveis de implementação no nosso País.

Como conclusões finais:
a) Há um elevado interesse no aproveitamento dos nossos recursos, tendo em vista a sua utilização que se deseja crescente para evitar a nossa dependência energética e económica do exterior;
b) Reforça-se a ideia da necessidade do aprofundamento de um desenvolvimento tecnológico de algumas das formas de energia disponíveis que determine uma maior implementação no nosso território, apesar das medidas estabelecidas a nível do Estado.
No final da exposição, teve lugar um debate sobre alguns dos pontos apresentados o que veio demonstrar que o tema em questão despertou interesse junto dos assistentes. Que tivesse constituído algum estímulo é o desejo da Associação dos Alunos e Amigo do ex-Colégio Campos Monteiro.

Ramiro Salgado

terça-feira, 8 de março de 2011

Energia Renováveis e Não Convencionais

A Associação dos Alunos e Amigos do ex-Colégio Campos Monteiro de Moncorvo tomou a iniciativa de levar a efeito no próximo dia 18 de Março, pelas 14 h 30 m, na Escola Secundária de Moncorvo, uma palestra sobre o tema "Energia Renováveis e Não Convencionais".


A palestra será proferida pelo Engº Oliveira Martins, um técnico de grande currículum, e muito interessado na problemática daquela matéria, cuja importância e actualidade, que não é demais realçar, merecem esta abordagem com o objectivo de divulgação e sensibilização não só junto da comunidade escolar daquela vila, mas também, em geral, junto daqueles a quem tal assunto possa despertar atenção.
Não é demais realçar a oportunidade da apresentação do tema, tendo em consideração a situação actual das necessidades gerais do nosso País, não esquecendo a nossa Região, e a capacidade de resposta dos nossos recursos energéticos, vastos e com potencialidades para aproveitamento que se deseja cada vez maior, em muitas áreas.

Albino António Lopes Areosa

Notícia

Faleceu no passado dia 2 do corrente, o Colega da Associação dos Alunos e Amigos do ex-Colégio Campos Monteiro, Albino António Lopes Areosa, antigo aluno do Colégio Campos Monteiro, que era sobrinho da saudosa Professora daquele colégio, Drª. Lucília Lopes de Sousa, e pai do Dr. António Alberto Areosa, Presidente do Agrupamento de Escolas de Torre de Moncorvo. À Famíla enlutada a Associação apresenta sentidas condolências.

domingo, 2 de janeiro de 2011

PRESÉPIO

Um presépio , obra do nosso Colega e Amigo , Amândio Gomes , de Miranda do Douro, que é um excelente escultor.

Pena que não queira expôr, pois todos ficaríamos mais enriquecidos admirando a sua arte.

Júlia Ribeiro

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Coitada da moleirinha!

Toda a noite a moleirinha peneirou, peneirou,
e mesmo antes de subir a serra, cansada,
e ofegante, a moleirinha errante
a farinha despejou e em neve se tornou,
branca e fria, leve, leve e fininha,
feita de lágrimas da linda moleirinha;
e tanto, tanto chorou! e tanto, tanto soluçou,
que em lindo orvalho se moldou,
vasto e imenso, imerso em frio denso,
e toda a noite em cristal se ficou,
o choro manso e humilde da linda moleirinha.

Toda a noite a moleirinha
peneirou, peneirou
toda a gente assim dizia,
esta noite é que nevou, é que nevou!
e era um tal espanto, uma tal maravilha!
deixando a terra, toda, assim toda branquinha!
que até mesmo parecia, finos e requintados,
sublimes e aprimorados, lindos! lindos,
e esmerados, finos rendilhados
da mais preciosa e trabalhada joalharia!
e mesmo, mesmo a sufocar, sem mais aguentar
começou a polvilhar sacos e sacos de farinha,
e todas as casas, árvores, ruas e telhados,
assim mesmo caiados, de tanta brancura
mostrar, parece que a moleirinha, de neve andou a pintar,
em brios de mil louvores, vidros esculpidos
em mil rigores, polidos de mil favores,
árvores lavradas de branco vestidas,
estátuas, de mármores, antigas!
Toda a noite a moleirinha
peneirou, peneirou
toda gente assim dizia,
esta noite é que nevou, é que nevou!
e o sol, até para brincar, lá no cimo, a brilhar
e para se acreditar, começou de a acariciar
e mesmo de leve, mesmo de levezinho
lhe tocou a ciciar, e escutando, de mansinho,
se sente o sussurrar ali naquele ribeirinho,
onde o sol, de envergonhado, se ficou, escondidinho
e era tanta a paz na terra, uma paz celestial,
no meio de tal brancura, no meio de tal beleza,
a formosura da neve era a maior riqueza!
sem diferença, tudo igual, a moleirinha
pintou , de neve, que maravilha!
a terra toda e a paz divinal
Toda a noite a moleirinha
peneirou, peneirou
toda a gente assim dizia,
esta noite é que nevou, é que nevou!
e um coelhito ousado, de focinho afiado,
em pêlo eriçado, as orelhas espetadas,
indiferente ao caçador, na neve deixa sulcado
qual arado de lavrador, semente de ingenuidade,
coragem e liberdade e meio estonteado,
sem medo da pontaria, procura um breve calor
na calmaria da neve, branca e leve de uma tarde fria.
Toda a noite a moleirinha
peneirou, peneirou
toda a gente assim dizia,
esta noite é que nevou é que nevou!
e mesmo no silêncio da calmaria no ar
se escuta, se sente, e se pressente,
se adivinha, o respirar da linda moleirinha
que toda a noite peneirou, peneirou
e de neve, branca e fininha, pura, imaculada
no silêncio de uma noite abafada
em frio cortante, gelo afiado a terra redondinha pintou
em brios de mil louvores, jóias de mil lavores,
esculpidos e polidos, árvores de branco lavradas,
vestidas de estátuas, de mármores, antigas,
de neve, branca e fininha, pura, imaculada!
Toda a noite a moleirinha
peneirou, peneirou
toda a gente assim dizia,
esta noite é que nevou, é que nevou!,
e o luar de prata , devagar, devagarinho,
já a meio do caminho, desce a serra de mansinho
em afagos de magia, sonhos de melodia,
da lua redonda e nua, etéreos, brancos,
fios prateados, de azul marchetados, tece ,
e na rua gelada e fria, suave calmaria,
de paz, é iguaria, assim se insinua na alma
mais dura, e a paz na terra, divina,
amanhece, branca e pura, imaculada aparece.
Toda a a noite a moleirinha peneirou, peneirou
e tão cansada ficou, que a farinha soltou
ali pela serra acima e tanto, tanto soluçou
a noite inteira chorou, que em neve branca e fina
se tornou. Coitada da moleirinha…..!
e era um tal espanto, uma tal maravilha,
deixando a terra assim, toda branquinha
que até mesmo parecia, finos e requintados,
sublimes e aprimorados, lindos, lindos
e requintados da mais preciosa e trabalhada joalharia
e o sol mediu em mil rigores, em mil favores
depois, em mil lavores, poliu e esculpiu
árvores lavradas de branco vestidas
em brilhos de mil vidrilhos,
estátuas, de mármores, antigas;
Toda a noite a moleirinha
peneirou, peneirou
toda a gente assim dizia,
Esta noite é que nevou, é que nevou
Para todos,
que o natal vos acache em muitas e muitas cachinhas de bênçãos!
boas festas!!

Arinda Andrés

vossemecê tem uma cara igualzinha, igualzinha!...

O Serafim ficou sem mãe ao nascer, e o pai, o Armando Cholim, pastor há muitos anos na Casa Grande, não era homem para abandonar as ovelhas e deixar o patrão. Habituado a calcorrear os montes, meses a fio sem descer ao povoado, não ia habituar-se a outra vida. Criado com uma tia, o rapaz, dada a escassez de recursos e terminada a escola, era necessário dar-lhe um rumo para se poder desenrascar e, querido como era de todos, ninguém se poupava a esforços para opinar sobre o destino do garoto; já que a sorte não o tinha bafejado, que ao menos, agora, a criança tivesse uma vida mais limpinha e bonita do que aqueles que tinham ficado ali, entre os torrões e as silvas de uma terra dura de cultivar, que fazia dos seus, escravos, e sujeitos ao trabalho de noite a noite. «P´ra ele estava bem era sapateiro, como o ti João Quim, ou alfaiate, o rapaz tem cabeça, lá isso tem». E foi assim, entre mimos e carinhos de uns e de outros, como caule fino e frágil, mas sempre direitinho, que foi crescendo, não pensando, nem lhe passava pela cabeça, um dia, ter que deixar a rua e os vizinhos, onde tudo lhe era tão familiar, naquela cabeça de cabelos encaracolados, ruços, como os anjos o tinham pintado, nem mesmo se esquecendo de lhe pôr uns olhos tão cheios de sonhos e de amor como macia era a cor do mar, que o Serafim sabia, de cor e salteado, o nome de todos os cães, e, se alguma galinha ou peru, mais cabeça no ar, se extraviava, ele saberia, de imediato, do seu paradeiro: «Olhe, a sua pita, andava agora na terlavila (atrás da vila), quer que la vá lá botar para baixo?». E da sua boca pura, infantil, nunca se ouviu qualquer palavrinha que não fosse dita e ouvida como um bem, tal era a generosidade e alegria que sempre manifestara; leve como um pardal, ao passar por esta ou aquela porta, havia sempre de dizer com inteira prontidão: «Quer que le vá a um recado?»; e ia mesmo, ia num pé e vinha noutro, tão ligeiramente e tão eficientemente, que ninguém ousaria questionar sobre qualquer solução apresentada, e rapidamente, pois o garoto, a despeito de muitas e muitas ausências e carências em que cresceu, nunca lhe faltou a resposta, pronta e rápida com que premiava quem o interpelasse. E no tempo em que as searas, soberanamente e desdenhosamente se ostentavam em exuberantes caules de seiva madura, pronta a cortar para sustento dos animais, era ver o Serafim, cheio de gaitas, que dava a quem lhas pedisse, emitindo belos trinados, de fazer inveja a qualquer pardal, que se arvorasse o título do mais sublime gorjeio; natural e harmoniosamente, como se, já nas mãos, trouxesse também a harmonia gorjeante e o timbre dos sons, metendo as rudes gaitas nos beiços de querubim, encantava quem o ouvisse, «parece um melro…que bem! nem um canário, o raparigo!»
Estávamos em 1952, a água transbordava nos chafarizes de Santo Apolinário e do Couço, e em fiozinhos esperançosos, corria suavemente, ora sumindo-se aqui, encolhendo-se ali, ou demorando-se, ténue e intermitente, no contorno de algum seixinho, antes de chegar às hortas vizinhas; as oliveiras vergavam-se ao peso das azeitonas e as amêndoas, de um aveludado macio e tenro, em casca dura, áspera e castanha se amontoavam, depois de secas em casa, ou na rua para se entregarem ao malhadoiro certeiro. E na luz fina e macia de um Outono doirado, suave e sereno, divinamente colorido, os rapazes, de calções e suspensórios, cruzavam as ruas, de arco na mão, ligeiramente inclinados e de olhar embevecido no passar dos sonhos, perdido na inocência de uma infância pacata e acomodada ao aconchego constante e seguro da casa e da família. O sol refulgia no cinzento azulado das pedras de xisto e redobrava-se em promessas nos vidros das janelas.
Mas o tempo passou e com ele o Serafim partiu, numa manhã fria e de vento agreste, para Lisboa. Os pardais alinharam-se nos beirais das casas, e tristemente, esconderam o bico sob as asas, descaídas de pesar. A gente ficou muda de tristeza, rematando num encolher de ombros conformista, por palavras, que nada dizem: «É a vida …». Mais um filho da terra, que partia à aventura. Trabalhava numa pequena mercearia, onde as pessoas faziam, sempre, as mesmas coisas; era um novelo, a desfazer-se em vontades, nas mãos do patrão e dos clientes e nunca ninguém reparou no Serafim. Encaixado lá no alto, num quartinho exíguo e mal arejado, a criança, com um olhar profundo, enternecidamente saudoso e magoado, via o vai e vem frenético das pessoas e lembrava a beleza da sua terra, o nascer do sol, mesmo ali, por cima da serra…, a apanha da azeitona, a quebra da amêndoa… mãos nodosas de trabalho ou ágeis de juventude, cheias de grão, a cair no alqueire, como pétalas a abrir em sonhos e ilusões, e histórias dos antigos, a encurtar o serão de tempos bem diferentes…, o cheiro do pão e dos bolos da festa, os jogos com os rapazes na praça… e nas meninas dos olhos do Serafim, os amigos passavam, à volta das eiras, de arco na mão, à luz de um Outono soalheiro e luminoso…As saudades apertavam-lhe a garganta, escureciam-lhe o olhar, antes, aberto e limpo, agora, escondido entre sobrancelhas, tensas e pesadas de melancolia e de receios; na cabeça, as lembranças derretiam-lhe a alma, e diluíam-se em apegos dos sentidos à sua terrinha natal, em acordes de melodias, que ecoavam em gargalhadas felizes, enamoradas, das raparigas, sobrepondo-se ao martelar dos malhadoiros, ao escachar das amêndoas e ao cair sonoro do grão, no açafate velhinho, de noites e noites, a encher-se de ilusões e de esperanças; depois, à meia-noite, qual revoada de pássaros a festejar baptizado, bandos de mocidade animada, em grupos de realejo e concertina, cantavam ao despique, enquanto os pares rodopiavam, ao som do coração, no terreiro; ele bem se lembrava, e que saudades..! andava cabisbaixo e amofinado, apesar de não querer dar-se por vencido. Mas acreditava sempre que as coisas haviam de mudar. Sentado num banquinho de jardim, sozinho, as lágrimas vieram confortá-lo de tantos desencontros que a vida lhe trouxera; os olhos embaciados, nem descortinavam a presença do polícia que, vendo a criança chorar tão tristemente, tão amargamente e tão doridamente, veio aproximar-se daquele rosto de menino ou de anjo, devia ser, com as lágrimas a escorrer pela cara abaixo. O dia rompera numa manhã doce, clara e sossegada, envolvida num manto de céu azul! O Serafim, de punhos da camisa devidamente esticados, olhou, de olhos bem abertos, soluçou profundamente, engoliu as lágrimas de um só trago e, limpando o nariz avermelhado de tanta emoção à manga do casaco que a madrinha lhe tinha dado para ir trabalhar para Lisboa, disse prontamente com um olhar límpido, tranquilo, e decididamente: «Vossemecê tem a cara igualzinha, …igualzinha… a um homem da minha terra, que é muito meu amigo!». E ainda a soluçar, engolindo o pão duro, amaciado com as lágrimas da tristeza: «O senhor é igualzinho, igualzinho a ele!». O agente de autoridade, já esquecido da autoridade, das leis e de todos os códigos de identificação, estendeu a mão, generosa, segura e protectora, ao menino frágil, indefeso e desprotegido, mas forte de sentimentos, e caminharam rumo ao lar. Os pássaros, todos! debaixo de um céu azul, divinamente azul, em gorjeios celestiais, cantaram hinos de alegria! A luz do sol brilhou intensamente, com uma luz quente de gratidão e inocência, alegremente! E veio meter-se com os caracóis de um menino que partiu sozinho para a grande cidade. O Serafim, num abrir e fechar de olhos, atirou-lhe uma piscadela, e as meias, a estoirar de curiosidade, e ávidas de cuidados maternais, espreitaram ainda mais, por baixo das calças, a deixar ver os tornozelos finos, de criança; mais direito ainda, para si e para os outros, nas voltas da vida, esticou bem aprumadamente o pescoço, e apertou a mão do amigo. Naquela noite, o Serafim entrou numa casa cheia de flores, a desabrochar em muitas e muitas primaveras e, apesar do seu tamanho, sentiu-se gente grande!

Arinda Andrés

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

AS MULHERES DA MINHA TERRA

As mulheres da minha terra,
Não tinham a pele fina,
Nem tingiam os lábios de cor purpurina.

As mulheres da minha terra,
Não punham flores na cabeça;
Dobravam -se ao peso da guerra e à dor da tristeza.

E quando a vida era noite, cobriam-se de merino preto;
Sumiam-se nas sombras pardas do monte,
E de passadas largas, carregavam água da fonte.

Vinham mesmo de manhãzinha,
Ou mesmo antes de romper o amanhecer.
De rodilha na cabeça; o cântaro d´água fresca para beber.

Traziam água, traziam rosas, sonhos e ilusões,
No ribeiro ficou a mágoa e na roupa bem lavada,
As mulheres da minha terra, de pele acetinada, trazem rios d` emoções.


arinda andrés, Quando a vida era noite

torce por isso

torce por isso,
não vá o enguiço,
fazer-te submisso
e de improviso
malicioso feitiço
sinuoso serviço
insubmisso
em rebuliço,
prolixo
sem lei nem siso
ambicioso
pernicioso juízo
conciso aviso
sorrisoindeciso
toque impreciso
se tece fio de luz
fio de sombra
amanhece
toque impreciso

A.Andrés

CALEIRA GOTEIRA

trovas, trovando
e calando
a caleira
goteira
goteja gotas
na cal da eira
se a cal se acala
e o vento se cala
fica a ceifeira
sem eira nem beira
enquanto a caleira
se cala e a água cai
na fraga larga,
despeja a água
da corrente para a fonte
e do monte para a ribeira
rasteira, que bordeja
e fareja a água
que sobeja
e goteja gotas na
cal da eira,
a goteira
da ribeira para
a caleira goteira

arinda andrés

Memórias

Em tempos que já lá vão, uns boémios, entre os quais um irmão meu, deitaram uma das bolas do Tribunal ao chão.
Fois um acto de vandalismo.
Em Fevereiro de 1978, cansado de ver aquele disparate, fiz uma quadra que colei na bola caída.
Assim:


Se a Justiça fosse macho,
Teria sido castrada;
Como é fêmea, ó diacho,
´Tá somente “avariada”.

E a bola voltou para o lugar. Com aquilo se provou o poder das palavras (e poucas!).

De Sidónio Fernandes
27.11.10. Algés

POEMA

Eu não existo.

Sou excrescência, um quisto
Da humanidade
Imitar Cristo
É grande dificuldade;
Foi um revolucionário,
Daí o seu calvário.
Os irmãos Graco
Na Roma Imperial
Foram mortos
Ao pregarem a justiça social.
Gandhi, em África, na Europa,
Na India, sem tropa,
Fundou um país em 1947;
Ele foi Rei, não foi valete.
Por último Che Guevara,
Um justiceiro,
A quem Torga chamou
“Jesus Cristo guerrilheiro”
Todos defenderam os pobres,
Tiveram caridade,
São figuras nobres
Da humanidade.

De Sidónio Fernandes
2006. Queluz